O recuo da faixa de areia nas praias do litoral de São Paulo evidencia uma crise silenciosa que vai além do dano ambiental pois compromete setores vitais para a economia regional. O fenômeno de desgaste das praias ameaça diretamente o turismo que se alimenta da beleza costeira, da infraestrutura hoteleira, dos quiosques e restaurantes à beira mar. Quando a praia perde área, diminui o espaço para lazer e para os empreendimentos que dependem do fluxo constante de visitantes, o que reduz o faturamento e afeta quem trabalha com esse segmento.
Além da queda no turismo, há impacto direto nos valores imobiliários à beira do mar. Construções que antes eram valorizadas pela vista privilegiada e pela proximidade da praia perdem atrativos quando a linha costeira se aproxima ou invade as áreas antes consideradas seguras. Proprietários enfrentam desvalorização, custos maiores de manutenção e risco para habitações. Isso reduz o apetite de investidores, prejudica o mercado imobiliário local e pode comprometer o desenvolvimento urbano costeiro planejado.
O setor pesqueiro também sofre efeitos significativos. Comunidades ribeirinhas e de praia dependem do equilíbrio ecológico para capturar peixes e crustáceos. Quando a praia se desgasta, há interferência nos ecossistemas costeiros que sustentam essas atividades. A destruição de mangues, bancos de areia e recifes próximos contribui para a perda de biodiversidade e prejudica a produtividade pesqueira, reduzindo renda daqueles que têm na pesca fonte de sustento, principalmente exercícios menores e de subsistência.
Infraestruturas públicas e privadas ficam mais vulneráveis ao avanço das águas. Praias que se aproximam de construções amenizam a eficácia de muros de contenção se estes não forem projetados para essas mudanças. Ruas costeiras, calçadas, redes de drenagem, saneamento e iluminação enfrentam erosão e infiltrações. O custo para reparos e adaptação cresce e pesa nos orçamentos municipais, que muitas vezes não preveem a deterioração contínua nem dispõem de recursos para intervenções rápidas.
Há também implicações macroeconômicas quando o Estado ou município deixa de receber receitas que dependem da praia. Taxas de turismo, impostos sobre serviços e comércio local recuam à medida que o movimento diminui. Quando a praia deixa de cumprir sua função de atração turística, a cadeia econômica — de transporte, alimentação, hospedagem, lazer — sente o efeito. Perdas de empregos se multiplicam, afetando a vida de quem depende desses setores para garantir renda.
Medidas de prevenção e adaptação ganham urgência como alternativas custo-benefício em comparação ao remédio posterior aos danos. Obras de contenção costeira, recuperação de praias com reposição de areia, restauração de vegetação nativa, proteção de encostas e planejamento urbano integrado são investimentos que, embora caros, previnem perdas muito maiores no longo prazo. A economia de reparar danos após o desastre tende a ser muito superior à de manter estruturas resilientes desde o início.
A mobilização pública e privada para mitigar os efeitos do desgaste costeiro exige articulação entre governo municipal, estadual e federal, além da sociedade civil. Políticas públicas de zoneamento, regulação de ocupações próximas à costa, licenciamento ambiental rigoroso e fiscalização contínua são peças-chave. Recursos financeiros precisam ser assegurados e distribuídos de modo que as regiões mais afetadas recebam apoio para se adaptar, seja por meio de infraestrutura ou compensações.
Em último plano, o fenômeno mostra que natureza e economia estão intimamente ligadas no litoral paulista. A preservação da praia significa preservação de meios de vida, de turismo, de mercado imobiliário e de bem-estar social. Ignorar o desgaste costeiro é aceitar perdas que vão muito além da paisagem e ameaçam o tecido econômico local. Adotando ações coordenadas, antecipadas e eficientes será possível recuperar espaços litorâneos, garantir sustentabilidade e manter o valor econômico da orla para as gerações futuras.
Autor: Haofeng Li
